terça-feira, 26 de julho de 2016

FILHOS ADOLESCENTE, PAIS EM CRISE por Jaqueline Bento




É difícil estabelecer limites sobre onde inicia e onde termina a adolescência, porque isso muda de acordo com cada cultura e sociedade. É comum confundirmos adolescência e puberdade, pois as duas costumam acontecer simultaneamente. Porém, a puberdade diz respeito à parte biológica, às características físicas e mudanças corporais; já a adolescência se refere ao que é psicológico, a personalidade, aos comportamentos. Mas independente de onde ela começa ou termina, o adolescente está sempre associado à crise. Não se desespere. A crise é necessária.

Eis uma bela definição:
CRISE=PERIGO E OPORTUNIDADE

Trazendo essa definição para nosso tema é fácil identificar o perigo, ele está presente a todo o momento. Ouço pais amedrontados e temendo que seus adolescentes se envolvam com drogas, criminalidade, sexo inseguro… Temem o desenvolvimento de transtornos psicóticos e tantos outros “perigos”, que para o adolescente em busca de uma identidade parecem ainda maiores.

E a oportunidade da crise? Ela existe mesmo?
Sim, existe. Falarei adiante.

Se você está realmente disposto a entender e ajudar seu filho, grave duas palavras: PACIÊNCIA E ELASTICIDADE. 

Eu explico.
É necessário entender que essa fase é transitória e às vezes muito longa. Em certas ocasiões, nós, os adultos, precisamos lembrar que também fomos adolescentes, que tivemos nossas próprias experiências, decepções, ganhos e perdas. E que foi esse emaranhado de situações que fez de nós o que hoje somos. Tenha PACIÊNCIA!

Mas você pode estar se perguntando: Eu como pai/mãe devo apenas esperar essa fase passar? Não devo impor limites ou mostrar o que é certo? Como vou ajudar meu filho a passar por essa fase tão complicada?
Mas eu lhe respondo: se você está lendo esse texto, então já deu o primeiro passo para ajudar seu adolescente. Tenha ELASTICIDADE!

O elástico possui limites firmes, mas não rígidos. Ou seja, ele permite uma ampla movimentação, um jogo onde se pode ir longe, mas nem tanto. Se quisermos saber como o adolescente funciona, precisamos primeiramente compreender como nós funcionamos. Você já se perguntou por seu filho parece se revoltar contra você nessa fase? Ou porque ele sente vergonha em certas ocasiões? Ele lhe obedecia até pouco tempo e de repente sua palavra parece ser a última coisa que ele considera. Como você se sente? Será que a crise é apenas dos adolescentes? Como vão vocês, pais?

Desde o momento que o casal descobre a gravidez, tem início uma série de fantasias e expectativas sobre esse Ser que virá ao mundo. Antes mesmo de a criança chegar, ela já tem um lugar e um papel estabelecido.

Cria-se fantasias a respeito das características físicas, do gosto musical, da escolha da profissão. Conforme a criança vai crescendo, ela vai sendo bombardeada por toda essa fantasia e expectativa dos pais e familiares. Na fase escolar o contato com outras formas de ser e pensar se inicia, porém, os pais ainda estão no controle. Os filhos ainda não saem sozinhos. Estão bem “protegidos”.

Mas a adolescência bate a porta, com toda sua bagagem. Junto com ela vem a puberdade (parte biológica), menstruação, seios, masturbação, ejaculação. De repente a companhia dos amigos se torna muito mais interessante que a sua. E você sofre. Alguns pais desenvolvem uma postura rígida e punitiva, tentado tomar as rédeas da situação, mas acabam causando ainda mais distanciamento. Outros caem na armadilha interpretar o papel de amigo (a) descolado (a). Também não resolve, e muitas vezes se sentem ridículos nesse papel.

Mas, Jaqueline, você quer dizer então que estamos fadados ao fracasso ao tentar lidar com nossos filhos adolescentes?
De maneira nenhuma. Pelo contrário. Acredito que à medida que você conseguir se conhecer melhor e entender suas próprias fantasias em relação ao seu filho, você se tornará uma pessoa mais original, segura e habilitada para ajudar e aconselhar nos momentos necessários.

É extremamente comum que os pais desenvolvam o que costumo chamar de inveja inconsciente. Como assim, Jaqueline? Você me pergunta.

Deixe-me explicar. Quantas vezes dizemos aos adolescentes as seguintes frases?

  • você tem a vida toda pela frente, se eu fosse você eu aproveitaria de outra maneira.
  • na sua idade eu não tinha todas as possibilidades que você tem.
  • na minha época era diferente, eu não pude escolher estudar, eu tive que trabalhar.
  • Eu não podia namorar nessa idade, você também só vai namorar quando completar dezoito anos.
E a lista não tem fim…

Quero chamar sua atenção para o que está por trás desses discursos.

Percebe o que tem em comum em cada um deles? Não?!
Pois eu lhe digo: Você! Você está nesses discursos, sua fantasia, suas expectativas, os seus desejos. Todos projetados no seu filho. Quando você conseguir identificar isso, tenha certeza que as coisas vão mudar muito na relação de vocês. Lembre-se: seja paciente, tenha elasticidade e identifique suas fantasias. Esse é o primeiro passo para que desenvolva o seu papel da melhor maneira possível. O mais importante tenho certeza que você tem de sobra: O amor incondicional, o conforto mais poderoso em tempos de crise.


Fonte: http://www.psiconlinews.com/2015/06/filhos-adolescentes-pais-em-crise.html




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