domingo, 12 de maio de 2013

NENA COMO NOSSA MÃE LINDA E PUTA - Xico Sá




Se toda cidade do planeta tivesse respeito pela vida à vera, digo, a vida de verdade, faria como a Câmara de Vereadores de Arcoverde, portal do sertão pernambucano, e homenagearia, com o maior respeito a essa vidinha que não vale nada -num vale nem o troco da passagem- e homenagearia, repito, uma mulher que deu carne e alma pelas pobres criaturas precisadas.

Homenagearia a mais bela das suas putanas.

Ninguém é mais homem ou mulher do que uma puta de verdade. Ninguém é. Nada.

Um mulher que chega a esse ponto vai além dos gêneros.

Sei que as forças estranhas, em tempos tão corretos, estão tentando barrar a homenagem, afinal de conta vivemos a tristeza de um cinza reacionaríssimo e lobotômico.

Mas…, que bonito, meu amigo Fernandão, cabrabom daí da área, que a importantíssima Nivalda Rafael de Siqueira, mais conhecida como Nena Cajuína, uma prostituta famosa da cidade, receba a Medalha de Honra ao Mérito Cardeal Arcoverde, a mais alta comenda entregue pelo legislativo.

O clorofilado cardeal, aos céus da história, deve ficar orgulhoso.

Viva viva Nena Cajuína!!!

Mil vezes, viva Nena!

Talvez, sugiro a dúvida, meu amigo Lirinha, ninguém tenha sido mais importante nesta cidade do que esta bela senhora.

Lira, meu amigo, precisamos dizer certas coisas, mesmo sabendo dos incômodos, mesmo sabendo que as famílias que se julgam mais-além talvez não compreendam a tese.

Não me cabe aqui, cronista ao rés do chão da finitude do cuspe, entrar na vida desse povo que se acha puro e sem pecado. Digo minhas coisinhas e passo.

Que bonito dona Nena, como mereces, saiba que conta com meu pobre discurso e a defenderei no panfleto lírico deste blog ad infinitum.

Que o projeto da vereadora Celia Cardoso (PR) seja repetido no planeta todinho.

É preciso que a gente defenda as honradas prostitutas. Independentemente de partido, a buceta-honesta é a razão mais ideológica do universo. É dada a quem a mulher escolha, seja por amor, seja por dinheiro, seja por uma besteirinha de nada depois de uma cerveja, seja seja, gracias a la vida.

Se fóssemos um país de verdade, além das homenagens daríamos -aí sim eu respeitaria o meu imposto- uma bela indenização para essas heroínas que iniciaram no sexo e na existência todos os homens.

Viva Nena de Arcoverde, viva Albert Camus, viva minha mãe, viva todas as mulheres que de alguma forma se identificaram com essa crônica.






PerfilXico Sá é escritor, jornalista e colunista daFolha
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