sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

COMO SE DESENVOLVE A EMPATIA - INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (Daniel Goleman)



Minha filha mais nova, Maria Eduarda, demonstra ser uma criança bastante amorosa e solidária aos sentimentos alheios ... É incrível como nós nos identificamos e somos parecidas emocionalmente.

Existe uma sintonização tão perfeita entre nós duas, que as vezes isso me assusta. Lembro-me de um fato que me marcou profundamente. Ela tinha por volta dos seus 04 anos e fui para Caxambu visitá-la. Levei-a para o 'Hotel Caxambu' e no caminho comprei umas 03 caixas de lápis de cor, canetinhas, folhas e etc; ela gosta muito de colorir, desenhar e pintar. A tardinha saí com ela para jantar e quando retornamos para o hotel, tomamos banho juntas e depois deixei-a colorindo no chão como ela gosta, ou seja, de forma livre. Deitei na cama e fiquei conversando com meus botões por assim dizer. Não tinha percebido que ela estava me observando e de repente ela deu um pulo em cima de mim e não sei como me deu a resposta que eu estava procurando intimamente. Foi a resposta da minha dúvida, não era mais uma destas respostas genéricas... Foi incrível e assustador. Parecia que ela podia me ler ...  isso me marcou muito.

Depois disso comecei a observá-la mais amiúde e percebi que além de sermos muito parecidas na personalidade e sentimentos ela tem um ligação espiritual muito forte comigo. A sensação que tenho que ela nasceu com uma finalidade bastante específica: de ajudar a mim e ao pai dela. Não me pergunte como eu sei disso. Eu não sei, mas é mais que uma sensação é quase uma certeza.  

Roberta Carrilho


Assim que Hope, de apenas nove meses, viu outro bebê levar um tombo, ficou com os olhos cheios d'água e engatinhou até sua mãe, procurando consolo, embora não fosse ela que tivesse levado o tombo. E Michael, com um ano e três meses, foi buscar seu ursinho de pelúcia para entregá-lo ao amigo Paul, que chorava; como Paul continuasse chorando, Michael se agarrou no cobertorzinho "de segurança" do amigo. Esses pequenos atos de simpatia e solidariedade foram observados por mães treinadas para registrar tais incidentes de demonstração de empatia. Os resultados do estudo sugerem que as origens da empatia podem ser identificadas já na infância. Praticamente desde o dia em que nascem, os bebês ficam pertubados quando ouvem outro bebê chorando - uma reação que alguns encaram como o primeiro indicador da empatia que se desenvolverá até a idade adulta.

Psicólogos do desenvolvimento infantil descobriram que os bebês são solidários diante da angústia de outrem, mesmo antes de adquirirem a percepção de sua individualidade. Mesmo poucos meses após o nascimento, os bebês reagem a uma pertubação sentida por aqueles que estão em torno deles, como se esse incômodo estivesse acontecendo neles próprios, chorando ao verem que outra criança está chorando. Em torno de um ano, começam a compreender que o sofrimento não é deles, mas de outro, embora ainda pareçam confusos sobre o que fazer. Numa pesquisa feita por Martin L. Hoffmann, da Universidade de Nova York, por exemplo, uma criança de um ano trouxe a própria mãe para consolar um amigo que chorava, ignorando que a mãe do amigo também estava no recinto. Essa confusão se vê também quando crianças de um ano imitam a angústia de outras, possivelmente para melhor compreender o que elas estão sentindo; por exemplo, se outro bebê machuca os dedos, um bebê de um ano põe os seus dedos na boca, para ver se também doem. Ao ver a mãe chorar, um bebê enxugou os próprios olhos, embora não tivessem lágrimas.

Essa mímica motora, como é denominada, é o significado técnico original da palavra empatia, como pela primeira vez foi usada, na década de 1920, por E.B. Titchener, psicólogo americano. Esse sentido é um pouco diferente de sua introdução original em inglês, do grego empátheia, "entrar no sentimento", termo inicialmente usado por teóricos da estética para designar a capacidade de perceber a experiência subjetiva de outra pessoa. A tese deTitchener era de que a empatia vinha de uma espécie de imitação física da angústia de outra pessoa, que então evoca os mesmos sentimentos em nós. Ele procurou uma palavra distinta de simpatia, algo que sentimos pelo queo outro está vivenciando, sem, contudo, sentir o que esse outro está sentindo.

A mímica motora desaparece do repertório dos bebês por volta dos dois anos e meio, quando eles percebem que o sofrimento de outra pessoa é diferente do deles, e então podem melhor consolá-los. Um incidente típico, extraído do diário de uma mãe:

O bebê de um vizinho chora... e Jenny se aproxima e tenta dar-lhe biscoito. Segue-o por toda parte e começa a choramingar. Então, tenta alisar os cabelos dele, mas ele se afasta... Ele se acalma, mas Jenny continua preocupada. Continua a trazer-lhe brinquedo e a dar-lhe tapinhas na cabeça e nos ombros.
Nessa altura de seu desenvolvimento, os bebês começam a se diferenciar na sensibilidade geral às pertubações emocionais de outras pessoas, com alguns, como Jenny, sendo agudamente consciente e outros desligando-se. Uma série de estudos feitos por Marian Radke-Yarrow e Carolyn Zahn-Waxler, do Instituto Nacional de Saúde Mental, mostrou que grande parte dessa diferença em interesse empático tinha a ver com a maneira como os pais educavam seus filhos. Elas constataram que as crianças eram mais empáticas quando a educação incluía chamar fortemente a atenção para a aflição que o mau comportamento delas causava nos outros: "Veja como você a deixou triste" em vez de "Isso foi malfeito". Também descobriram que a empatia das crianças é igualmente moldada por verem como os outros reagem quando alguém mais está aflito; imitando o que vêem, as crianças desenvolvem um repertório de reação empática, sobretudo na ajuda a outras pessoas angustiadas.

A CRIANÇA BEM SINTONIZADA

Sarah tinha 25 anos quando deu à luz dois gêmeos, Mark e Fred. Achou que Mark se parecia mais com ela; Fred, mais com o pai. Essa percepção pode ter sido a semente de uma reveladora mas sutil diferença na maneira como ela lidou com cada um dos meninos. Quando eles tinham apenas três meses, Sarah muitas vezes tentava atrair o olhar de Fred, e quando ele virava o rosto, ela tentava de novo; Fred reagia dando-lhe mais enfaticamente as costas. Assim que ela olhava para outro lado, ele tornava a olhar para ela, e o esconde-esconde recomeçava - muitas vezes deixando Fred em prantos. Mas, com Mark, Sarah nunca tentava estabelecer contato ocular como fazia com Fred. Ao contrário, Mark podia romper esse contato quando quisesse, que ela não insistia.

Um ato pequeno, mas revelador. Um ano depois, Fred era visivelmente mais medroso e dependente do que Mark; uma das maneiras como demonstrava esse medo era evitando olhar nos olhos de outras pessoas, como fizera com a mãe aos três meses, baixando e desviando o rosto. Mark, por outro lado, olhava direto nos olhos dos outros; quando queria romper o contato, virava ligeiramente a cabeça para cima e para o lado, com um sorriso cativante.

Os gêmeos e a mãe foram minuciosamente observados quando participaram da pesquisa de Daniel Stern, um psiquiatra então na Faculdade de Medicina da Universidade Cornell. Stern é fascinado com os pequenos e repetidos intercâmbios que ocorrem entre pais e filhos; acredita que as lições mais elementares da vida emocional se dão nesses momentos íntimos. Desses momentos, os mais críticos são os que informam à criança que seus sentimentos encontram empatia, são aceitos e retribuídos, num processo que Stern chama de sintonia. A mãe dos gêmeos estava sintonizada com Mark, mas emocionalmente dessincronizada com Fred. Stern afirma que os incontáveis momentos de sintonia ou não sintonia entre pais e filhos moldam as expectivas emocionais que, quando adultos, levarão para seus relacionamentos - talvez muito mais do que os mais dramáticos acontecimentos da infância.

A sintonia ocorre tacitamente, como parte do ritmo do relacionamento. Stern estudou-a com precisão microscópica, em horas de gravação em vídeo de mães com seus bebês. Ele constata que, pela sintonização, as mães informam aos bebês que compreendem o que eles estão sentindo. O bebê grita de prazer, por exemplo, e a mãe atesta esse prazer balaçando-o de forma delicada, arrulhando ou imitando o guincho dele. Ou o bebê sacode o chocalho, e ela responde, balaçando-o. Nessa interação, a mensagem de afirmação está no fato de a mãe se igualar mais ou menos no nível de excitação do bebê. Essas pequenas sintonizações dão ao bebê a tranquilizadora sensação de estar emocionalmente ligado, uma mensagem que Stern constata que as mães enviam cerca de uma vez a cada minuto quando interagem com seus bebês.

A sintonização é muito diferente da simples imitação.
- Se você apenas imita um bebê - disse-me Stern -, isso apenas mostra que sabe o que ele fez, mas não como se sentiu. Para que ele saiba que você sente como ele sente, é preciso reproduzir os sentimentos íntimos dele de outra forma. Aí o bebê sabe que foi entendido.

O amor físico é talvez a coisa mais próxima, na vida adulta, dessa íntima sintonização entre o bebê e a mãe. O amor físico, escreve Stern, "envolve a experiência de sentir e estado subjetivo do outro: desejo partilhado, intenções alinhadas e mútuos estados de excitação simultaneamente mutáveis", com os amantes respondendo um ao outro numa sincronia que exprime, de forma tácita, o significado de profunda relação. O amor físico é, no que tem de melhor, um ato de mútua empatia; no pior, falta-lhe toda essa mutualidade emocional.

Daniel Goleman

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